quinta-feira, 11 de junho de 2009

O famoso sussurro de Bob Harris

A graduada em filosofia, Charlotte (Scarlett Johansson) não se adapta ao fuso horário de Tóquio e conseqüentemente não consegue dormir. O decadente ator Bob Harris (Bill Murray) vive uma situação parecida. Charlotte está em Tóquio acompanhando o marido, um fotógrafo workaholic. Harris para ganhar uma boa grana cedendo sua imagem para um comercial de whisky. O marido de Charlotte não lhe dá muita atenção, ela sente falta de alguém para ouvi-la e está profundamente solitária. Harris sente-se entediado, passa horas no bar do hotel e está insatisfeito com seu casamento. Ambos são americanos e se encontram no mesmo hotel em Tóquio. Estando no mesmo tempo e espaço juntos e buscando um conforto, a identificação entre os dois é imediata. Aos poucos eles vão se aproximando e, mais do que amigos, tornam-se cúmplices. Bob e Charlotte passam a compartilhar o tempo de sobra que têm e a monotonia vai desaparecendo. São dias e noites em que eles apenas andam pela cidade, jantam juntos ou ficam em seus quartos, falando sobre suas vidas ou simplesmente jogando conversa fora.

Como diz o nosso amigo Oliver lá da agência Tomada 1: Encontros e Desencontros não tem nada, mas é um grande filme. Esse "não tem nada" pode ser traduzido como ausência de algum elemento efetivamente especial ou surpreendente. A narrativa é convencional e a trama se desenrola de maneira muito simples. Não há nenhum artifício, trucagem, ou elaborados movimentos de câmera. E é aí que reside seu encanto. Na mais pura simplicidade, no genuíno relacionamento dos protagonistas, na naturalidade com que as coisas ocorrem, bem como nos contrastes apresentados pelo cenário onde a ação se desenvolve.

O Japão é quase um personagem na história. O filme não seria a mesma coisa se filmado em qualquer outra megalópole que não fosse Tóquio. E não seria a mesma coisa sem as presenças inspiradas de Bill Murray e Scarlet Johansson, ambos convincentes como pessoas aborrecidas com suas vidas e escolhas e procurando por algo a mais que nem eles mesmos sabem o que é. O tédio e a frustração dão-se muito pela incapacidade de adaptação das duas personagens, mas também devido ao vazio em que se encontram. Tóquio, sendo o centro de contrastes que é, cai muito bem como pano de fundo dessa história. Com sua fidelidade às tradições milenares, mantendo sempre vivo o seu passado, mas ao mesmo tempo apresentando-se tão futurista, com todas as inovações tecnológicas, como se estivesse anos a frente de outras capitais. E a relação de Bob e Charlotte é de amizade e cumplicidade, mas ao mesmo tempo uma história de amor. Encontros e Desencontros revela-se levemente cômico e sutilmente dramático. Assim, simples como uma conversa sem sentido que flui naturalmente entre dois amigos e complexo como o amor, principalmente quando surge de uma forma inusitada. É alegre como uma noite num karaokê e triste como uma despedida.

Adendo 1: A trilha sonora é realmente uma das mais bonitas que eu já ouvi. Destaque para Jesus & Mary Chain com Just Like Honey na famosa e crucial cena final.

Adendo 2: Há diversas teorias sobre o que Bob Harris sussurra no ouvido de Charlotte no final do filme. Alguns dizem que é : "I love you, and everything you did. Go back there and tell him to try, OK?", outros: "I'll always remember the past few days with you. Don't part mad... Tell him the truth. Okay?" e ainda tem os que dizem que é: "When John is waiting on the next business trip... go up to that man, and tell him the truth. Okay?". Mas, sinceramente não importa, afinal o encanto da cena está no fato de que o sussurro é um segredo inaudível para terceiros.


Por Andrizy

Nenhum comentário:

Postar um comentário