terça-feira, 31 de março de 2009

Passageiros

Sabe quando você espera tanto por um filme estrear, e parece que essa estréia nunca chega? Pois foi assim que me senti com Passageiros. Desde o ano passado a sua estréia vem sendo anunciada, mas parecia que nada o faria chegar as nossas telas curitibanas. Enfim, chegou nesse último fim de semana.


Estrelado pela bela Anne Hathaway, o filme do diretor Rodrigo Garcia, é intrigante do começo ao fim. Se prestarmos bem atenção nos detalhes já na metade descobrimos o seu final. Mas, isso não prejudica o bom andamento do longa, que consegue prender a atenção do público.


No filme, Claire (Anne Hathaway) é uma psicóloga que recebe a missão de aconselhar cinco sobreviventes de um acidente aéreo. Enquanto eles dividem as suas aflições e tentam se lembrar como aconteceu o desastre, um dos sobreviventes chama a atenção de Claire, Eric – interpretado por Patrick Wilson -, que se recusa a fazer as sessões de terapia e parece estar muito bem obrigado. Mas, conforme a relação profissional entre Claire e seu paciente torna-se um romance, os sobreviventes começam a desaparecer misteriosamente, um a um.


Com a sua história bem amarrada, com boa direção, e com boas atuações, Passageiros não deixa a desejar (ainda bem, porque a espera foi grande e seria extremante decepcionante se o filme fosse ruim). É um filme de suspense que cumpre o seu papel. Enfim, vale a pena dedicar duas horas do seu tempo para conferir essa obra na telona.


Por Caroline do Prado

quarta-feira, 18 de março de 2009

Branca Eterna

“Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou... Pararatimbum...”. Quem é que não se lembra dessa música? Se você se lembrou, é porque certamente uma adorável jovem e seus sete companheiros, fizeram parte de sua infância. E também de milhares de crianças pelo mundo, desde o seu lançamento no dia 21 de dezembro de 1937. Nesse dia, Walt Disney apresentava Branca de Neve e os Sete Anões, era o começo de uma história de sucesso.

Branca de Neve foi a primeira animação feita em estúdio na América Latina, e demorou quatro anos para ser produzida (1934/1937). Disney contava com uma equipe de mais de 750 artistas. Foram criados ao todo mais de um milhão de desenhos e, apenas 250 mil foram utilizados no longa.

Mas, qual será o segredo de tanto de sucesso? A resposta é simples. Branca é uma animação impecável e muito a frente do seu tempo, por assim dizer. A história é simples e encantadora, e seus personagens ganham o carisma do espectador. Somos convidamos a cantar, dançar e dar muitas risadas com os sete anões, mas também sofremos quando a bruxa coloca em prática os seus planos malignos – um deles o da maçã envenenada, que deixa a nossa mocinha em sono profundo - para acabar com Branca de Neve. Mas o final, é claro, é clássico.

Disney conseguiu transformar um sonho em realidade, dando vida aos personagens, com seus movimentos naturais. Enfim, fez a aposta certa. Presenteou-nos com uma bela animação, que nunca vai sair de moda. Porque, Branca é eterna!

**Em tempo:

A versão mais conhecida da história é a dos Irmãos Grimm.

No ano de seu lançamento o filme lucrou U$ 8 milhões de dólares.

Por Caroline do Prado

terça-feira, 17 de março de 2009

Primeiros Filmes

Logo nos primeiros anos do cinema nacional foram feitos também os registros iniciais do carnaval brasileiro. O ano era 1908 e as imagens gravadas serviam apenas para registrar e documentar as festas carnavalescas, já que na época, essas produções não continham sons.  


 

25 anos depois, mais especificamente em 1933, começaram a ser lançadas as primeiras produções musicais. Nessa época o filme A voz do Carnaval, dirigido por Ademar Gonzaga e Humberto Mauro, inicia esse ciclo e marca a estréia de Carmem Miranda nas telas. Logo depois, em 1935, surge Alô, Alô, Brasil! de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, e um ano depois é lançado Alô, Alô Carnaval, de Ademar Gonzaga.

[Cláudia Guadagnin] 

Charles Chaplin


Charles Spencer Chaplin nasceu no dia 16 de abril de 1889. Sua mãe era atriz, mas teve que abandonar a carreira por um grave problema de laringite, já seu pai, artista do music-hall, abandonou a família. Dessa forma desde os cinco anos de idade o futuro diretor, produtor e ator teve que debutar artisticamente. Passou sua infância em orfanatos, onde ele encontrou elementos que utilizaria mais tarde em seus filmes. O cineasta conquistou o público do mundo inteiro com o seu humor e sua ironia através do personagem Carlitos - o vagabundo com bengala, chapéu-coco e calças largas.
Foi em 1909, já adolescente, que conseguiu um lugar na companhia do acrobata Fred Karno, que fazia sucesso com espetáculos de mímica, logo roubou a cena de Karno e foi para sua primeira temporada em Paris. Cidade onde os irmãos Lumiére, George Mélies e Max Linder fizeram nascer o cinematógrafo (uma espécie de ancestral da filmadora, movido à manivela e utiliza negativos perfurados, substituindo a ação de várias máquinas fotográficas para registrar o movimento. O cinematógrafo torna possível, também, a projeção das imagens para o público). Anos mais tarde Max Linder disse: “Chaplin teve a gentileza de me confessar que os meus filmes o levaram a fazer os seus próprios filmes. Chamou-me de mestre, mas fui eu que tive o prazer de aprender com ele”.
Logo após ter começado a dirigir filmes, Chaplin percebeu que o posicionamento da câmera, ia além da questão psicológica da cena, constituía também na articulação da cena e na base do estilo cinematográfico. Entre seus principais filmes estão O garoto (1921), Em busca do ouro (1925), Luzes da cidade (1931), Tempos modernos (1936) e O grande ditador (1940).
Por Marina Salmazo

segunda-feira, 16 de março de 2009

David L. W. Griffith


Foi em 1915 que David Llewelyn Wark Griffith trouxe inovações para o cinema, fazendo uso do close facial, focalização profunda, movimentos de câmera e montagem paralela. O filme "Nascimento de uma Nação" ("The Birth of a Nation") foi o primeiro longa metragem usado como base para as criações hollywoodianas.

Apenas um ano depois, em 1916, David surpreendeu novamente, com "Intolerância" ("Intolerance"), fazendo uso de histórias paralelas e montagens.


Por Amanda Tamalavicius Bahl

domingo, 15 de março de 2009

Watchmen


A adaptação para as telonas da aclamada e premiada história em quadrinhos Watchmen, finalmente chega aos cinemas cercado por enormes expectativas. Dirigido por Zac Snyder, o mesmo de 300, o filme conta com um elenco de desconhecidos do público. Contrariando a opinião de minha querida colega da Agência Tomada 1, Fernanda Serpa, acredito que Watchmen foi uma adaptação que não deu certo. A narrativa escolhida para dar vida aos personagens, torna-se cansativa com o passar dos minutos. Nas histórias em quadrinhos em geral, mostrar algo para o leitor na forma de capítulos dá certo, porém nos cinemas, isso não funciona. O filme erra – e muito- ao começar a contar a história de um personagem e então voltar para seu passado, para depois retomar sua história atualmente. Você pode pensar : “ah, mas eu quero saber o que aconteceu com meu personagem preferido no passado”. O problema é fazer isso com todos os personagens e repetidas vezes, fazendo com que a história se perca e o espectador fique confuso.
Outro grande erro de Watchmen é o foco exagerado que coloca no personagem do Comediante. Na obra original, isso não ocorre, e tal modificação acaba por prejudicar o filme.
Em um filme de super heróis, sempre se espera ação em grande quantidade. Watchmen quebra tal tradição optando por mostrar o lado mais humano e sombrio dos “poderosos”. Talvez isso seja o único atrativo do filme. Como se vê no cinema, muitos deles nem são dignos de serem chamados de heróis – vide o caso do Comediante, que tenta estuprar uma amiga e mata uma mulher que está esperando um filho seu.
Grandes cifras eram aguardadas em torno do lançamento do filme. Entretanto, a monotonia da narrativa acabou prejudicando o faturamento. Especula-se que não chegará nem perto dos 75 milhões de dólares previstos antes da estréia.
Enfim, não recomendo.
Samantha Fontoura

Milk - A Voz da Igualdade

Cinebiografia é um negócio arriscado. Transportar a vida de ícones para as telonas, resumindo em duas horas de projeção parece uma tarefa árdua. E dificilmente, cinebiografias conseguem ser satisfatórias.

O cinema nacional ainda tem muito que aprender sobre esse gênero. Exemplos recentes como Cazuza - O tempo não pára, Zuzu Angel e Olga, comprovam esse fato. Nesses filmes, as figuras retratadas não passam de símbolos. Ao tomar a decisão de mitificá-los (e não ao contrário), os realizadores desses filmes distanciam essas personagens do público, deixando de ser personagens reais, humanos, para se converterem em seres icônicos, heróis que parecem não fazer parte de nossa realidade.


Outras cinebiografias mais bem sucedidas, ora decidiram apostar em fórmulas certeiras, com narrativas convencionais, redondinhas e bem estruturadas, como é o caso de Johnny e June ou Ray, ora decidiram ousar e acabaram sendo aplaudidas (I'm Not There, cinebiografia do músico Bob Dylan) ou vaiadas (Maria Antonieta)


Milk é uma cinebiografia correta com uma narrativa mais clássica, seguindo uma linearidade. As idas e vindas do roteiro, por exemplo, são bem explicadas. Mas o maior trunfo de Milk está no fato de que o roteiro humaniza a personagem. Milk não é apenas um símbolo, um mito. E o roteiro foge disso ao mostrar momentos corriqueiros de sua vida como seus aniversários e seus relacionamentos com seus companheiros.


Outro acerto do roteiro é fugir do discurso panfletário, uma vez que era fácil isso acontecer, bem como a personagem cair no caricatural, afinal é a história de um militante gay lutando pelas minorias. Somado ao bom roteiro de Dustin Lance Black, está a interpretação de Sean Penn que ao transportar Milk para às telas, o faz sem afetações, oscilando entre a fragilidade e força da personagem com muita sutileza. O restante do elenco também é muito competente. Destaque para Emile Hirsch, em momento inspirado e James Franco que compõe muito bem a figura simples de um homem comum e sensato.


E como sempre, os filmes do diretor Gus Van Sant são conhecidos pelas belas fotografias, pelo rigor dos enquadramentos e pelo jeito sempre sutil de filmar.


O diretor equilibra muito bem momentos ficcionais com documentais. A câmera nas costas da personagem (algo que o diretor já havia trabalhado em Elefante) aparece aqui com propósitos bem diferentes de O Lutador, por exemplo. Se nesse último parecia um exercício voyeurista, em Milk, ela só quer anteceder seu fim. Seguimos Milk pelo corredor até o fatídico momento.


Mesmo já tendo conhecimento da morte de Harvey Milk desde o início do filme, é impossível passar indiferente pela cena de seu assassinato. Van Sant a orquestra com a maestria que lhe é habitual. A ópera coroa o último ato de sua vida.


Por Andrizy

quarta-feira, 11 de março de 2009

O leitor - Uma bela história



Quando penso numa história, quando falo sobre qualquer história, sempre penso o seguinte: história boa é aquela que mexe com as questões mais simples e profundas da vida. A angústia, a culpa, a traição, a redenção.

Isso independe do suporte, um bom livro não precisa de belas gravuras ou uma bela capa quando se conta uma boa história. É a história por si só e ponto. E assim é também com o cinema (porque não?). Se uma história é boa, não é necessário nenhum grande efeito especial, nenhuma engenharia computacional especializada.

Foi assim com O Leitor (The Reader) – 2008. Uma ótima história. O que me cativou mais foram os silêncios que tudo diziam de Hanna Schmitz (Kate Winslet) e a atuação de David Kross no papel do jovem Michael.

Como já disse lá em cima, os ingredientes foram muito bem trabalhados, principalmente a culpa e a redenção vividas pela que não sabia ler/escrever e é acusada de um crime onde uma das principais provas é uma carta atribuída a ela.

Fotograficamente o filme também não deixa a desejar. Bela cena aquela em que Hanna decide morrer e elege como única companhia nesse momento os livros  - que foram, durante muito tempo, como que enigmas para ela.

Enfim, apesar de não ser um consumidor assíduo do cinema, há de se reconhecer belas histórias contadas de maneiras igualmente belas, foi o caso deste filme. 

[Marcos Vinicius]

Tonight Tonight

Considerado o primeiro exemplar cinematográfico do gênero Ficção Científica, Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune) de 1902, é sem dúvida, o mais célebre dos filmes do visionário George Méliès.

De origem francesa, o filme de apenas oito minutos é inspirado na literatura de Júlio Verne e H.G. Wells e narra a história de um grupo de exploradores que faz de forma, digamos, curiosa, uma viagem à lua (sendo atirados em uma cápsula por um canhão gigante). Lá eles são capturados pelos habitantes da lua e precisam arranjar uma maneira de retornar à Terra.

Antes de ser um dos primeiros a se aventurar pelo cinema, Méliès era um ilusionista. Sua especialidade eram mágicas e pirotecnias. A partir daí, ele teve a brilhante idéia de transportar esses "conhecimentos fantásticos" para o cinema. O cinema era para Méliès, um meio de exercitar seu talento como ilusionista.

Nada mais justo do que atribuir a Viagem à Lua o título de precursor do cinema sci-fi e dos efeitos especiais.

Tonight Tonight, um dos clipes mais cultuados dos Smashing Pumpkins e um dos melhores de todos os tempos, tem seu visual baseado no clássico de Méliès. o vídeo conta com cenários teatrais e manufaturados e efeitos especiais da época do filme, além de ter sido filmado com uma filmadora à manivela.


Nada mais do que uma obra-prima baseada em outra obra prima. Bela combinação. Uma das bandas mais geniais dos anos 90 e uma das criaturas mais geniais da história do cinema.

Por Andrizy

L'Arrivée d'un Train à La Ciotat

A data: 28 de dezembro de 1895

O Local: Salão Grand Café em Paris

O que exatamente: A primeira sessão de cinema.


Os irmãos Auguste e Louis Lumière apresentam o cinematógrafo, uma câmera movida à manivela que registrava o movimento e projetava imagens. A invenção dos Lumière causa espanto, entusiasmo e incita a curiosidade do público.


L'Arrivée d'un Train à La Ciotat (A Chegada do Trem na Estação) foi o filme exibido.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O leitor - crítica técnica



A primeira seqüência de cenas se passa dentro da casa do personagem no tempo atual do filme. Nessa primeira seqüência de cenas, o dinamismo é alcançado por meio dos cortes, uma vez que toda a seqüencia não tem muita movimentação ou troca de cenários. Nesse primeiro instante, parecem cortes feitos no momento da gravação, e não cortes feitos posteriormente no processo de montagem do filme. Quanto aos planos utilizados, por se tratar de um diálogo, percebe-se o uso mais freqüente do plano intermediário entre os atores em questão, focando-os, porém sem tirar grande parte do cenário. Quanto à angulação, não se percebe grande variação nessa primeira seqüência, quase toda a seqüência apresenta angulação normal. O ponto de vista pareceu alternar entre a câmera subjetiva (mostrando a visão que um tinha do outro durante o diálogo) e a câmera objetiva (exercendo o papel de um olhar “de fora” da cena).

Nesta primeira seqüência de cenas, a noção de tempo é introduzida através da legenda com o ano em que a cena transcorre. O mesmo recurso de legendas para indicar o tempo é usado em outros momentos da história, mas não é o único recurso utilizado, muitas vezes o filme não usa artifício nenhum para indicar transposição de tempo e espaço, ficando a cargo do espectador entender tais mecanismos. Aliás, a quantidade de recursos para indicar transposição temporal é uma das coisas que mais chama a atenção no filme.

Na segunda seqüência de cenas já há um corte temporal e a história passa-se na juventude do personagem apresentado inicialmente. Utiliza-se o recurso de Flash Back para fazer a transposição temporal.

Depois de iniciada essa segunda fase da narrativa, que é propriamente o desenvolvimento da história, não há cortes temporais significativos durante um bom tempo. As mudanças nas imagens também não são muitas quando comparadas ao estilo apresentado ainda na primeira etapa. A câmera continua no seu ritual de filmar sobre o ponto de vista objetivo (com exceção da cena que o personagem está no trem que a câmera assume um olhar subjetivo na cena). O ângulo dela também não se altera muito, quase sempre se posiciona como ângulo normal, com poucas exceções (como o momento que Michael dialoga com Hanna à beira do banheiro).

O plano mais utilizado ainda é o intermediário, embora se utilize bastante o plano fechado quando diálogo é mais “sério” entre os dois personagens, mais “denso”, por assim dizer. Geralmente o forte dessas cenas são mesmo os diálogos, se passam em ambientes fechados e por isso justifica-se o uso de planos mais fechados, uma vez que toda a tensão da cena está sobre os personagens e não no cenário.

No meio da narrativa, os cortes temporais chamam a atenção, pois há uma mudança, se no início eles eram feitos com legendas, agora , uma cena pode transcorrer no passado e usar-se de um objeto para ir para o tempo futuro. Como acontece quando Michael está no passado folheando um caderno perto de uma cachoeira enquanto Hanna tomava banho, logo depois o mesmo caderno aparece na mão do ator que interpreta Michael já na meia idade, num tempo diferente.

Depois dessa seqüência de cena que mostra o personagem principal já formado e exercendo a profissão de advogado, há outro corte temporal sinalizado por legenda e o mesmo aparece na universidade assistindo aulas de direito no julgamento da mulher que ele conheceu anos antes.

Da mesma maneira o plano mais utilizado ainda é o intermediário, com ângulo normal, não há muita alteração nisso.

Os movimentos de câmera durante o filme se alternam bastante, logo no início, na mesa de jantar ou na cena em que Hanna e Michael está na cama e ela o pede para ler, a câmera parece executar um movimento de travelling.

[Marcos Vinicius]

domingo, 8 de março de 2009

O Lutador

O Oscar desse ano não poderia ser mais previsível. A vitória do mais que favorito Quem quer ser um milionário, já era farejada de antemão. Assim como prêmios de Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante. Foi apenas mais uma noite sem grandes surpresas. Ainda assim, um prêmio apertou o coração dos cinéfilos. Afinal tínhamos Sean Penn e Mickey Rourke, ambos excelentes em seus respectivos papéis, disputando a estatueta de Melhor Ator. Talvez tenha sido o único prêmio que, se não chegou a constituir uma surpresa, pelo menos fez com que muitos palpiteiros errassem ao apostar todas as suas fichas em Rourke, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator.


É difícil decidir quem esteve melhor. Mas Rourke tinha um atrativo a mais. O fato de ser um astro decadente retornando em alto estilo (tal qual o seu personagem no filme). Mas Rourke acabou perdendo para um igualmente brilhante Sean Penn.

Ainda assim, Rourke pode ser considerado um astro renascido. Afinal não é o prêmio que vai fazê-lo vitorioso e sim a atuação em si e seu grande talento como ator. E podemos dizer que Rourke nunca esteve melhor.


O novo filme de Darren Aronofsky não é, apesar de num primeiro momento parecer, um filme de ator. Embora o filme brilhe, sobretudo, graças ao seu protagonista. Na verdade, fica difícil imaginar outro que não seja Rourke assumindo o papel do lutador. Tanto pelas características físicas e pelo carisma quanto pela sua história de vida. O ator também teve seus momentos de glória e de fracasso e durante um tempo se aventurou pelo universo das lutas. Logo, O Lutador encontra na figura de Rourke o seu intérprete perfeito.


Um mito aclamado em cima dos ringues, e um homem fracassado fora deles. Ao sofrer um infarto após uma violenta luta, Randy “The Ram” Robinson não tem outra escolha a não ser se aposentar e dar um rumo para sua frustrada vida pessoal.


Randy vê-se, então, na difícil tarefa de se reconciliar com a filha que há muito deixou para trás, tentar a sorte no amor com uma velha conhecida que trabalha como stripper e recorrer a uma profissão “normal”. Mas ele acaba constatando que a vida pessoal não é o seu forte. Afinal como o sujeito Randy ele sempre falhou e continua falhando, como lutador The Ram ele é cercado de glórias, encontrando em seus fãs o carinho que ele não encontra na sua vida pessoal mal resolvida.


Ver os dois lados desse homem é o que mais enobrece o filme. Ao tentar a reaproximação com a filha, vemos nele a fragilidade e suscetibilidade, características essas que nunca lhe são inerentes quando ovacionado nos ringues após memoráveis vitórias.



O roteiro de Robert D. Siegel não foge completamente do convencional e das obviedades. Mas só por se distanciar do Happy Ending e da tão mal fadada redenção que acaba afundando boas premissas em tantos filmes por aí, O Lutador já é digno de ser considerado um dos melhores filmes do ano.


A câmera de mão, trêmula e nervosa em vários momentos, quase nos remete a um filme caseiro. Na maior parte do tempo, a câmera está nas costas da personagem nos apresentando belos planos seqüência, o que é uma referência às transmissões esportivas, onde as câmeras seguem os lutadores até o ringue, um recurso estilístico mais do que apropriado. O filme é pontuado por belos momentos. A sua entrada no balcão de frios no supermercado o remete aos bons tempos em que ele entrava no ringue, ele chega até a ouvir os gritos de incentivo e emoção da platéia em sua imaginação. O último plano também é um exemplo de grande momento em O Lutador.


Passagens que chegam a ser quase melodramáticas não afetam ou comprometem a narrativa. Como os momentos em que ele quase chega a reconquistar sua filha, o que não desmerece em nada o filme de Aronofsky, aliás, interessante ver Aronofsky se distanciando um pouco de suas "viagens experimentais" e se aventurando numa narrativa mais convencional.


Grande roteiro, bela trilha sonora, ótimas atuações e movimentos de câmera bem sacados. Em suma, um grande filme. Mas não há como negar que o espetáculo é de Rourke. Seu Randy "The Ram"entra para galeria dos grandes personagens do cinema graças à escolha mais que acertada de seu intérprete.


Por Andrizy Bento