domingo, 15 de março de 2009

Milk - A Voz da Igualdade

Cinebiografia é um negócio arriscado. Transportar a vida de ícones para as telonas, resumindo em duas horas de projeção parece uma tarefa árdua. E dificilmente, cinebiografias conseguem ser satisfatórias.

O cinema nacional ainda tem muito que aprender sobre esse gênero. Exemplos recentes como Cazuza - O tempo não pára, Zuzu Angel e Olga, comprovam esse fato. Nesses filmes, as figuras retratadas não passam de símbolos. Ao tomar a decisão de mitificá-los (e não ao contrário), os realizadores desses filmes distanciam essas personagens do público, deixando de ser personagens reais, humanos, para se converterem em seres icônicos, heróis que parecem não fazer parte de nossa realidade.


Outras cinebiografias mais bem sucedidas, ora decidiram apostar em fórmulas certeiras, com narrativas convencionais, redondinhas e bem estruturadas, como é o caso de Johnny e June ou Ray, ora decidiram ousar e acabaram sendo aplaudidas (I'm Not There, cinebiografia do músico Bob Dylan) ou vaiadas (Maria Antonieta)


Milk é uma cinebiografia correta com uma narrativa mais clássica, seguindo uma linearidade. As idas e vindas do roteiro, por exemplo, são bem explicadas. Mas o maior trunfo de Milk está no fato de que o roteiro humaniza a personagem. Milk não é apenas um símbolo, um mito. E o roteiro foge disso ao mostrar momentos corriqueiros de sua vida como seus aniversários e seus relacionamentos com seus companheiros.


Outro acerto do roteiro é fugir do discurso panfletário, uma vez que era fácil isso acontecer, bem como a personagem cair no caricatural, afinal é a história de um militante gay lutando pelas minorias. Somado ao bom roteiro de Dustin Lance Black, está a interpretação de Sean Penn que ao transportar Milk para às telas, o faz sem afetações, oscilando entre a fragilidade e força da personagem com muita sutileza. O restante do elenco também é muito competente. Destaque para Emile Hirsch, em momento inspirado e James Franco que compõe muito bem a figura simples de um homem comum e sensato.


E como sempre, os filmes do diretor Gus Van Sant são conhecidos pelas belas fotografias, pelo rigor dos enquadramentos e pelo jeito sempre sutil de filmar.


O diretor equilibra muito bem momentos ficcionais com documentais. A câmera nas costas da personagem (algo que o diretor já havia trabalhado em Elefante) aparece aqui com propósitos bem diferentes de O Lutador, por exemplo. Se nesse último parecia um exercício voyeurista, em Milk, ela só quer anteceder seu fim. Seguimos Milk pelo corredor até o fatídico momento.


Mesmo já tendo conhecimento da morte de Harvey Milk desde o início do filme, é impossível passar indiferente pela cena de seu assassinato. Van Sant a orquestra com a maestria que lhe é habitual. A ópera coroa o último ato de sua vida.


Por Andrizy

Um comentário:

  1. Não vi Milk ainda...confesso q tenho um certo receio de assistir e não gostar. O trailer dá a impressão de que o filme tem a função de apenas mostrar o lado bonzinho do personagem...
    sabe aquela coisa de ele ser "O" cara...naum sei...
    mas...como sempre...achei seu texto mto bom...sou tua fã...vc sabe disso... :D

    e como sei q vc eh taum louca por cinema quanto eu...e vc gostou do filme...eu confio...e vou assistir ao filme sem preconceitos...

    Fer Giotto Serpa

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