quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ah Raimunda



Como eu poderia começar um perfil de Raimunda no filme Volver? Talvez eu pudesse começar falando que era uma pacata dona-de-casa que trabalha para ajudar a sustentar o lar. Mas, se começasse assim, estaria abrindo mão de um clichê para definir uma personagem que não cabe em contextos já batidos e conhecidos. Estaria também sendo extremamente inexato, afinal  Raimunda não era só isso. À primeira vista seria uma pacata dona-de-casa, mas os elementos que transformarão Raimunda em uma mulher surpreendente começam a aparecer já no início da trama. 

Ela tem personalidade forte. Fato que se confirma quando, deixando-se dominar por seu instinto materno, decide assumir a culpa da morte de Paco – seu marido, resguardando sua filha, a real assassina.

No desenrolar do filme outro fato prova a força da protagonista. Raimunda não hesita em enterrar o freezer com o corpo de Paco à beira do rio que ele mais gostava, para isso convida uma vizinha para lhe ajudar com o transporte. E diz que pagará pelo serviço, e que a outra não fizesse pergunta alguma. Determinada, sem dúvida. 

O internauta pode achar que com tanta personalidade, a personagem interpretada por Penélope Cruz era incapaz de expressões de amor, mas não é. Como explicar o momento em que ela chora, junto à filha, quando esta conta que foi assediada pelo próprio pai?

Emoção. Com certeza, mas nessa situação da filha é emoção somada às lembranças de Raimunda, que também fora assediada pelo pai. Aliás, Paola, filha de Raimunda em Volver é, na verdade, filha do pai da protagonista.

Outro momento marcante da protagonista, é claro, é quando ela canta “Volver”, as lágrimas que escorrem pelo rosto de Raimunda enquanto ela vê a mãe são tocantes, profunda  sem ser melodramática. Assim é Raimunda, sensível, forte, profunda, nada parecida com a simples e pacata dona-de-casa escolhida para iniciar esse perfil.

Por Marcos Vinicius 

 

 

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